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sábado, 3 de julho de 2010

Peteleco e Besouro


Uma das coisas que gostava de fazer quando criança era ficar na praça em frente minha casa vendo os carros passar. Eram pouquíssimos, tinha uma rural do seu Benedito correa, outra do padre, um caminhão de puxar madeira desses bem velhos e dois caminhõezinhos do Seu Cícero, pai do Fernandão. O mais interessante é que eles tinham nomes: Besouro e peteleco, cada um era mais velho que o outro, mas eu notava que o dono deles tinha um amor tão grande por eles. O Velho Cícero como era conhecido, era um senhor alto, forte e com aspecto de brabo, dificilmente ele ria. Andava sempre de chapéu, acredito até que nem era paraense. Parece que estou vendo ele e seus carros. A boleia era como se chamava o que hoje é a cabine do carro, acho porque era boleada. Ele funcionava os carros metendo uma manivela na frende e rodando com bem força para o motor pegar, aí ele entrava e lá se ia deixando para trás um fumaceiro maior do que duma caieira de carvão.

sábado, 20 de março de 2010

Cidade poesia


Eu vejo poesia na minha cidade.
Mesmo que outros não vejam.
Eu vejo alegria pulando
na areia da beira do cais.
São os moleques da bola,
que toda tarde vêm brincar.
Eu vejo poesia nos casais de namorados,
que o pôr so Sol vêm admirar.
Eu vejo poesia nos cabelos alvos dos velhinhos,
que vão à igreja rezar.
Eu vejo poesia na ilha
que estou a contemplar.
Eu vejo poesia na canoa que ao longe vai,
levando o pescador a remar.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Lembranças dos meus pais


Estou há uma semana longe de casa, me sentindo completamente só. Está chovendo muito e eu lembro muito do meu pai e da minha mãe, da nosa casinha. Uma lembrança forte, muito forte. Nada preenche o vazio deixado pela falta que eles me fazem. De repente me dá uma vontade incontrolável de voltar no tempo. Fecho os olhos e em questão de segundos entro na nossa antiga casa, e quem eu vejo? Minha mãe, costurando, como de costume. Tudo está lá, no seu devido lugar. Os vazinhos com flores em cada parapeito, o calendário na parede da sala, onde parei para admirar uma paisagem linda que meu irmão pintou. Na banquinha em um canto, lá está o velho rádio do meu pai, um rádio grande da marca ABC. Eu posso até ouvir a "Patrulha da Cidade", um programa que iniciava às onze horas da manhã, e como prefixo tocava uma musiquinha mais ou menos assim: é uma tristeza, "é uma infelicidade ouvir meu nome na patrulha da cidade". Se não me falha a memória, um dos apresentadores era o Astrogildo Correa. Mas nesse momento, eu entro no meu quarto e posso ver as paredes todas enfeitadas com folhas de revistas, com fotografias de cantores e artistas da televisão. Deito um pouco na cama e mato a saudade das minhas bonecas, dos meus ursinhos de pelúcia, mas agora olho o quintal, vejo as açaizeiras, as bananeiras e lembro muito da Socorrinha - filha do tenente Pedro. Nós fazíamos nossas casinhas e cobríamos com folhas de bananeira. De repente vejo meu pai chegando, trazendo um cacho de banana na mão esquerda, e o terçado e o remo na outra. Ele está de chapéu, camisa amarrada na frente e calça enrolada abaixo dos joelhos. A vontade que eu sinto é de ficar aqui com eles, mas eles já não existem nesse mundo material, nem a nossa casa, e é por isso que eu morro um pouquinho a cada dia, de tanta saudade deles.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um homem chamado Sátiro Lopes da Luz



No dia 21 de fevereiro do corrente ano, as águas do rio Capim pararam para receber as cinzas de uma ilustre personalidade do nosso município. O Sr. Sátiro Lopes da luz, ele que foi prefeito e vice-prefeito de São Domingos do Capim nas décadas de 70 e 80. Foi para cumprir o seu último desejo que sua esposa, filhos e parentes mais próximos entraram nos barquinhos para lançarem suas cinzas no velho e lendário rio Capim, rio que tantas vezes o viu passar nas suas andanças políticas, ou que simplesmente o observava nas suas freqüentes passadas pelo cais, a conversar com os amigos. Seu Sátiro era assim, um homem simples, popular e verdadeiro, não abria mão de tomar uma cervejinha com os amigos, mas na hora de votar, lá vinha ele todo vestido num terno, com gravata e tudo, óculos escuros e aspecto sério, que diante do primeiro gracejo de algum amigo logo dava lugar ao homem brincalhão de sempre. Confesso que me emocionei ao ouvir o estrondar dos fogos e ao ver tantas pessoas chorando sua morte. Lembrei dos discursos que ele fazia, nos comícios. Não lembro bem qual era o partido, só sei que nesta época, em plena ditadura militar no Brasil, só existiam dois partidos com liberdade para se reunir: A ARENA – Aliança Renovadora Nacional e o MDB – Movimento Democrático Brasileiro.
Esse momento ficará registrado na memória do município e de seus familiares, parentes e amigos. Sempre que olharmos ou falarmos no rio Capim, lembraremos do seu Sátiro, pois a história dele se misturou a história do rio.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Oba! O circo chegou




Uma das raras diversões de minha época era o circo. Quando chegava na cidade, era uma alegria para todo mundo.
A tarde o palhaço perna-de pau percorria as poucas ruas da cidade e atrás dele iam um monte de crianças repetindo uns versinhos, isso lhes dava direito a receberem ingresso para o espetáculo da noite. Eu ficava só olhando e morrendo de vontade de ir também, mas a mamãe dizia que isso era coisa de moleques. Eu lembro até hoje as quadrindas. Era mais ou menos assim:

Palhaço: Hoge tem espetáculo?
crianças: tem sim, senhor!
Palhaço: às sete horas da noite?
Tem sim, senhor!

Palhaço: Pipoca, amendoim torrado
Cria nças: carreguei tua mãe num carrinho quebrado

P= Eu vou alhi e volto já
C= vou comer maracujá

P= Seu Benedito Bacuraua
c= Tá no oco do pau
p= tá no oco do pau
C= Benedito bacuraua

P= mas o que é que a velha tem?
C= carrapato no xerém

P= Alegria de pobre é um dia só
c= um quilo de tripa com mocotó

Geralmente chegavam no inverno e isso era ruim, pois a gente ficava com os sapatos cheios de lama, sem contar que, às vezes, chovia mais dentro do que fora, aí já dá pra imaginar o tanto de buraco que tinha na cobertura, por isso agente tinha que levar guarda-chuva. Ah! mas nem era tão ruim assim, tudo virava diversão. no início do espetáculo, apareciam umas mulheres, bem acima do peso, por sinal, que dançavam e se rebolavam e os moleques mais apresentados ficavam assoviando e gritando para elas.

Meu pai só me dava dinheiro aos finais de semana, mas eu sempre fazia amizade com as pessoas do circo, dava água, banana para eles e em troco eles me davam ingresso, assim eu poderia ver todos os espetáculos. Quando o circo ia embora, eu ficava triste, e ficava só recordando de tudo o que via: danças, lutas, palhaçadas e principalmente das quadrinhas que o palhaço repetia. Como eu sinto saudade desses circos.