Uma das poucas casas que tinha televisão, pelo menos que eu me lembre, era a do Seu Pedro Sodré, então, quase que todos os dias nós íamos a casa dele, nós e o resto dos moradores da cidade que, para a sorte dele, não era grande. Era novidade e todos queriam ver.
Em 1974, meu pai comprou a nossa, e eu lembro até a novela que estava passando, era Estúpido Cupido. Todo mundo queria jantar bem cedinho, só para não perder nenhuma programação, já que a energia não dava muito tempo. Acho que 17 horas todo mudo já tinha jantado, e já ficávamos ansiosos só esperando que o seu Martinho, mais conhecido por Manequim, ligasse o bendito motor de luz. Quando funcionava, eu era a primeira a ligar a TV, para assistir o meu desenho preferido: O Ze Buscapé. Lembro, também de outros programas como: "oito ou oitocentos, "Globo de Ouro", "Chico City", e outros. Mas tinha um problema, a imagem era ruim, e de vez em quando alguém tinha que virar a antena, que era daquelas espinha de peixe. Quando chovia, então, era uma tristeza...
Outro problema era na safra do milho. Meu pai pedia que o delegado lhe cedesse alguns presos de justiça para que lhe ajudassem na debulha do milho. A sala de casa ficava cheia, então eles debulhavam o milho e conversavam sobre vários assuntos, aí agente ficava praticamente só vendo as imagens, pois eles conversavam muito alto, até a luz apagar.
Eu fico pensando que a televisão mudou muito o hábito das pessoas, alterou a rotina das famílias, pois eu lembro que todo mundo almoçava e jantava junto, mas com a chegada da televisão cada um comia num horário, para não perder a sua programação, ou então pegava o prato e ia comer na frente da televisão. As pessoas já não conversavam mais com tanta frequência, nas calçadas, e dentro das casas as pessoas estavam juntas, porém mudas, petrificadas diante das imagens em preto e branco.