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sábado, 5 de novembro de 2011

Mestre Mundinho


Conversando com o seu Mundinho, um dos moradores mais antigos da cidade, com seus noventa e tantos anos e uma memória de dar inveja a qualquer jovem, tive o prazer de ouvir várias histórias. Eu ficaria o dia todo escutando seus casos, se pudesse.
Seu Mundinho me contou que em meados do século XX, o município de São Domingos do Capim contava com aproximadamente 400 habitantes. A cidade, possuía apenas duas ruas: A avenida Dr. Lauro Sodré - que ia da Igreja ao Trapiche)- e a Marcílio Dias - conhecida como Portinho. O Igarapé Capim Miri era o porto dos colonos, lá ficava a casa e o comércio do Sr. João Daibes um dos primeiros comerciantes da cidades. Lá,desembarcavam mercadorias para abastecer o pequeno município.
Eu indaguei sobre a abertura da PA-127 e ele me disse foi no governo do intendente Tenente João Evangelista de Carvalho Camarão (1935).Ele mandou abrir três picos, mas não deu certo, já no mandato de seu filho Raimundo Magno Camarão(1940 a 1942)querendo dar continuidade a obra do pai, mandou colocar toras de madeira nos picos abertos, mas foi deposto do cargo.
Em 1945 foi eleito o Sr. Pascoal Bailão da Fonseca, que continuou a estrada até a Vila de Perseverança, que na época era conhecida como "Braço Grande".
Seu Mundinho me contou, também, que em 1930 teve um intendente chamado Maltês - Sargento interventor desgnado pelo Tenente Manoel Barata, que na época também foi nomeado interventor do estado Pará pelo então governador Getúlio Vargas, que assumiu a presidência do país atraves de um golpe político. Segundo seu Mundinho, esse Maltês que abriu as primeiras ruas da cidade - ele era muito trabalhador, disse seu Mundinho. Olhe, tia, foi tolice do eleitorado trocar o Maltês pelo João Camarão.
e a política, o Sr. se lembra?
A política, tia, era assim: tinha dois partidos nessa época - os Lauristas do Guamá, e os Conservadores do Capim, liderados pelo Coronel Cândido José Ferreira Eles eram adversários e resolviam as questões políticas no cacete. Eles tinham até casco(canoa grande), tia. O nome do casco dos conservadores era "Positovo do Capim". Quando eles vinham pra cidade, enquanto remavam diziam versos. Eu ainda me lembro de alguns, era mais ou menos assim:
"Se eu soubesses que tu vinhas,
eu faria o dia maior,
dava um nó na fita verde,
pra encobrir o raio do sol". aí, davam três batidas com o remo nas bordas co casco, assim: TRÓ, TRÓ, TRÓ,jogavam o remo pra cima, aparavam e iam dizendo outros versos.
Quando tinha um casamento, a noiva e sua família vinham num casco; o noivo e sua família vinham noutro, e vinham se desafiando em versos, assim:

Sai daí, seu fede-fede,
seu catinga de mucura,
enquanto em vida tu fedes,
que dirá na sepultura.

Agarra esse teu verso,
e joga no fogo frio,
pois esse não é verso,
de jogar de desafio.

não sou caroço de manga,
não sou caroço de uxi,
não sou cachorro velho,
pra fazer caso de ti.

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